terça-feira, 25 de novembro de 2014

Histórias de Bar

Certo dia eu ouvi uma história, de um velho homem sentado num banco velho de um bar do centro da cidade. Dizia ele, que podia saber quando choveria, apenas pelo som do vento, e que quando a lua rugia, vinha sol noite e dia. Batuquei nisso aí por muito tempo, até busquei achar algum entendimento, e se quer cheguei a alguma conclusão. Ele continuou sua história mostrando-nos o dedo do meio, e para nossa surpresa o dedo não estava lá. Não quis questionar o porquê, mas alguém do meu lado não pode evitar. Era uma linda jovem de cabelos castanhos e olhos cor de mel. Curioso a sua curiosidade, e então o velho lhe disse, olhando para a ponta de seu nariz: “este dedo me foi tomado, na única vez que tive coragem para sonhar alto. A queda foi longa, e eu só perdi meu dedo, e confesso que valeu a pena”, então ele ergueu outro dedo, e nele havia um anel. Era de ouro, e tinha alguma coisa escrita nele, e ele continuou “conheci no meio desta queda, a mulher que viria a se tornar meu sonho”.
Eu o questionei sobre qual era o seu sonho, e eu embranqueci. Ele me lançou um olhar terno, e com um sorriso com cor de quem fumou por muitos anos, e bebeu muito. Eele me disse “meu filho, ir atrás dos teus sonhos, não significa que tu vai achar exatamente o que tu sonhou. O meu sonho foi achar a felicidade, e então eu e a encontrei” – ele olhou para o teto, o ventilador estava ligado (me questionei o por que, já que havia um ar-condicionado imenso dentro do bar), as luzes ligadas, e um odor típico de bar – “Já faz muito tempo que ela se foi, e não quer dizer que eu não seja mais feliz. Sinto falta do seu sorriso, mas sei que agora vocês a conhecem por Iemanjá”.
Fez-se um silêncio no bar. Naquele momento, todos lá estavam prestando atenção no velho. Ele olhou para cada um dentro daquele bar, e descansou seu olhar numa cadeira vazia, sorriu da mesma maneira que havia sorrido para mim, momentos antes. Então piscou seus olhos lentamente, pediu mais um copo de whisky e disse “me recordo do dia em que a conheci. Eu estava no mar, e como uma atípica história clássica, ela me salvou.” – ele fez uma pausa entre um gole e a sua história – “Quando olhei seus olhos, juro que vi o mar em sua imensidão azul, pude ver os peixes, os marinheiros. Pude ouvir sinceras orações em seu nome, no momento em que ela encostou seu rosto em meu rosto para sentir a temperatura”. Eu estava interessado, não. Eu estava completamente hipnotizado na história, então lhe perguntei como era o nome dela. Todos queriam saber, alguns o achavam louco, mas eu o achava uma enciclopédia ambulante.
“Ela me disse que seu nome era Maria, mas nas orações que eu ouvi, ela era Iemanjá” – Ok, agora eu estava o achando um pouco louco, mas ele continuava sendo um gênio, um ótimo contador de histórias – “A maré se encarregou de nos levar de volta para a praia, e ela foi comigo até minha cabana. Era algo simples, com telhado de palha, mas ela achou aquilo o máximo. Ela gostava do modo que eu tomava água, e a água escorria pela minha barba.” Ele voltou o seu olhar para a cadeira vazia, bebeu mais um gole do seu whisky, pediu mais uma dose, respirou com dificuldade, tossiu e então começou a gargalhar. Ninguém lá entendeu, então ele nos disse “Quem entra no mar para se afogar, vira parte do mar. Mas quando eu fui lá, o mar que virou parte de mim”.
Ele se levantou calmamente, pegou seu chapéu, colocou na sua cabeça, coçou a barba e terminou seu whisky. Ele pagou a conta, e então se despediu de todos nós, deixando-nos uma história incompleta. Ele encostou a mão em meu ombro, e eu pude sentir o mar beijando meu corpo, numa tarde nublada na praia de Torres. Quando ele chegou na porta, eu lhe pedi seu nome, ele hesitou, se voltou para dentro do bar, e procurou com seus olhos de onde vinha a voz. Quando seu olhar pousou em mim, ele me disse “Eu me chamo Noé”, ele sorriu, acendeu um cigarro e se misturou a escuridão da rua. Começou a chover, e todos no bar começamos a conversar entre si, e chegamos a conclusão de que ele é um bom contador de histórias, mas não sabemos quanto a veracidade de tudo que ele nos contou.

Quando eu estava disposto a pedir algo para beber, encontrei no banco do senhor Noé um papel amassado. Eu o peguei, abri-o e tinha algumas coisas escritas nele, mas de tudo que eu poderia ter lido naquele momento, o que mais me tocou foi o seguinte: “Meu caro jovem, não precisa sentir medo de ir atrás dos teus sonhos. As chances de tu obter sucesso, são do tamanho da tua fé.” A sua caligrafia incrível, tornou a leitura mais prazerosa. Mas não me lembro de ter visto ele escrever alguma coisa. Eu não sabia nada dele, a não ser as suas histórias. Mas acho que ele leu meu coração.

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